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—Venha Querida, você não quer me ver? Sou eu, sua amada mãe, venha Susye. — Uma doce voz chamava meu nome em meio a neblina da floresta.


—Mãe? É você? — Falei seguindo a voz pela neblina.

—Sim, eu estou aqui, querida.

A neblina aos poucos foi embora e eu pude ver minha mãe, ela estava dentro de um lago, ela esticava os braços para mim e me encarava com um gentil sorriso.


—Mãe! — Exclamei feliz e sem pensar duas vezes entrei na água, corri em sua direção depositando na mesma um caloroso abraço —Como você veio parar aqui? Estava com tantas saudades!


—Oh querida, não te ensinaram a nunca confiar em estranhos? — Uma voz rouca e mórbida sussurrou ao meu ouvido.


—Mãe? Como assim?

Eu abri os olhos lentamente olhando para baixo pude ver que o lago estava com uma cor avermelhada e cheirava a pobre, nesse momento eu me afastei um pouco dela e vendo seu rosto soltei um grande grito.

Agora ela tinha uma face esverdeada, esquelética e cheia de escamas, seus olhos eram largos e negros, tinha cabelos negros e longos. Aquela criatura deu um sorriso macabro expondo seus dentes pontudos e afiados, em seguida disse com a mesma voz rouca e mórbida:


—As aparências enganam, Susye.

A criatura segurou com suas mãos esqueléticas e geladas o meu pescoço e começou a sufocar-me, me jogou para baixo e assim começamos a afundar. Pude ver que a criatura tinha uma espécie de cauda.


Suas escamas me aranhavam meu pescoço, a dor se intensificava a cada segundo, eu podia sentir as forças do meu corpo indo embora. Minha laringe se contraia mais e mais e eu já era capaz de sentir que a circulação do sangue para o meu cérebro estava cessando lentamente.

Eu abri a boca e comecei a me debater para que a criatura me largasse, mas foi em vão e acabei por intensificar ainda mais a dor. Ela parecia ter prazer ao ver meu sofrimento pois me encarava com um sínico sorriso.

Quando eu estava quase sem folego a criatura parou de sufocar-me e se dirigiu as minhas coxas, enfiou suas unhas em minha carne e em seguida segurou meu rosto, me encarando com um sorriso aterrorizador falou com uma voz fina e sem emoção:


—Você é a próxima.

Senti meu corpo se arrepiar por completo, em seguida ela voltou a apertar meu pescoço fazendo o restante do ar que estava nos meus pulmões ir embora. Senti uma dor agonizante e fina, meus olhos lentamente iam se fechando e o sorriso daquela criatura ficava cada vez mais fixado em minha cabeça.

Antes de apagar por completo pude ouvir uma risada medonha, após isso o silencio e a dor me abraçaram, fazendo meus últimos segundos de vida serem ainda mais horríveis.


Abri meus olhos e percebi que estava em meu quarto. Passei a mão pelo meu rosto e percebi que estava toda suada, então resolvi sair da cama e ir até a janela tomar um pouco um ar.

Fui até ela e a abri. O vento gelado tocou minha pele deixando-a arrepiada e adentrou o quarto, olhei para cima e observei, até minha atenção se direcionar para o jardim. Rapidamente pude ver um vulto negro em forma de cão.


—Um Black Dog? — Sussurrei para mim mesma. —Miiko falou que quando eles aparecem, alguma coisa ruim acontece...


Fechei a janela e caminhei até a cama novamente, deitei-me na mesma e fechei os olhos na tentativa de dormir de novo. Mas assim que os fechei senti uma forte dor na minha coxa o que me fez olhar em direção a ela, em seguida vi a mesma criatura do sonho olhando para mim.

Gritei tão alto que meus pulmões chegaram a doer!

A criatura simplesmente desapareceu, mas antes eu pude ouvir um eco que falava “Você é a próxima. ”


De repente a porta se abriu e bateu na parede brutalmente, olhei com os olhos arregalados em sua direção e vi que Alajéa havia entrado no meu quarto.


—O que aconteceu, Susye? — Disse ela se aproximando de mim preocupada.


—Eu, bem... — Eu estava tremendo de medo, comecei a gaguejar.


—Calma, está tudo bem. — Ela se sentou ao meu lado e passou a mão por minha perna, nesse momento eu vi que em minhas coxas haviam furos e os mesmo escorriam sangue, olhei para ela e vi que sua expressão havia mudado.


—Alajéa?


- Sim? Bem... acho melhor nós irmos lavar isto. O lago que costumo visitar é mágico e ele cura esse tipo de ferida. — Ela disse segurando meu braço e me puxando.


—Está escuro e a ferida nem está doendo, vamos pela manhã. — Eu disse, balançando meu braço na tentativa de faze-la me soltar.


—Não se preocupe, é próximo daqui, por favor, não tem que ter medo. Ou você não confia em mim? — Ela parou e ficou me encarando.


—Claro que confio, mas... — Fui interrompida.


—Ótimo, agora venha.


Dei um leve suspiro e a segui. Depois de um tempo caminhando chegamos até o lado de fora. Olhei para Alajéa, ela estava com uma expressão séria, agora ela segurava meus braços como se a qualquer momento eu pudesse fugir. Balancei minha cabeça para os lados na tentativa de jogar esses pensamentos para longe.

Adentramos a floresta e o caminho ficava cada vez mais esquisito.


—Alajéa, você não disse que ficava perto? — Eu perguntei, olhando para os lados assustada com a escuridão.


—Você não confia em mim Susye?


—Confio, mas... Alajéa? — Senti que Alajéa havia soltado minha mão e graças a Escuridão eu não conseguia vê-la. —Alajéa, isso não é legal! Eu estou com medo. — Eu disse olhando ao redor, de repente eu consegui ver uma silhueta a minha frente. —Alajéa?

Me aproximei lentamente, meus pés tocavam o solo e as folhas no chão fazendo ruídos que me deixavam com ainda mais medo, estendi minha mão até a silhueta e a mesma se virou para mim mostrando sua face.

A criatura tinha uma pele morena escamosa, sua face também era magra, seus cabelos azuis e médios e seus olhos eram vermelhos.


—Alajéa?! — Gritei seu nome.


—Ela quer você, eu não posso fazer nada. Ela quer você! — Ela disse se aproximando de mim.


—Quem me quer? — Eu falei, andando rapidamente para trás sem dar as costas para ela. —Você não é a Alajéa! Saia de perto de mim!


—Como você também não é a Susye. — Ela falou com uma voz horrenda. Em um piscar de olhos ela estava em minha frente. —Às vezes as aparências enganam.


Ela agarrou meus braços e em seguida me jogou para trás. E, para minha surpresa, eu caí na água. Imediatamente senti minhas pernas sendo agarradas e puxadas para baixo. Comecei a afundar e a me debater na água, eu tinha que sair dali!


A criatura me puxava cada vez mais para o fundo. Eu sentia o ar sumindo dos meus pulmões, sentia uma sensação amarga e ao mesmo tempo dolorosa. Debatia-me cada vez mais, ansiando por ar, mas novamente sem sucesso algum.


Eu já havia desistido, minhas forças haviam ido embora e daqui a pouco o meu folego também iria embora completamente. Fechei os olhos e só esperei a morte chegar.


Depois de alguns segundos senti as mãos que me puxavam soltarem-me. Abri os olhos e vi dois vultos logo a frente, eles se debatiam como numa batalha. Notei que a criatura e aparentemente outra pessoa estavam lutando.


Sem pensar duas vezes eu juntei as forças que haviam me restado e nadei para cima. Após alguns segundos eu voltei até a superfície e assim nadei até a terra.

Assim que sai da água respirei fundo e em seguida me levantei e comecei a correr, exatamente para onde, eu não sabia, mas quanto mais longe daquele lago, melhor.


Passados alguns minutos parei de correr e me encostei em uma árvore para descansar. Mas ouvi passos e risadinhas que se aproximavam, depois ouvi uma voz que dizia: “É uma pena, seu amiguinho de cabelos pretos e mechas vermelhas morreu em vão”.

Era a voz de Alajéa.


—Amiguinhos de cabelos pretos e mechas vermelhas?...Chorme! — Exclamei o nome dele um pouco alto.


—Te achei! — Ela apareceu na minha frente ainda mais horrenda que antes. —Ela disse que eu não precisava necessariamente entregar você viva, então está tudo bem se eu te matar agora, né? E quem sabe que não arranque um ou dois pedacinhos seus? Você cheira tão bem... — Ela disse com um sorriso macabro no rosto, em seguida enfiou uma faca em minha barriga, eu podia ouvir sua gargalhada de prazer.


—Não! — Assim que ela retirou a faca ensanguentada de minha barriga, eu segurei seu pulso com força e tomei a faca, rapidamente a enfiando inúmeras vezes contra seu abdômen.


—Sua assassina! — Disse Alajéa, e após isso seu corpo caiu no chão já sem vida. O sangue escorria pelo solo e eu observava tudo paralisada, mas de alguma maneira estava feliz com aquilo.


Em seguida corri ainda com a faca em minhas mãos ensanguentadas. Levei a mão livre até o corte e depositei minha mão sobre ele fazendo a dor se agravar. Mordi o lábio inferior contendo meu grito, pois aquela criatura poderia aparecer de novo.

Ainda com a mão por cima da ferida e respirando fundo tomei coragem e continuei caminhando, dessa vez mais lentamente.

Graças a escuridão não podia ver para onde exatamente estava indo.


—Não... não... Chrome! Meu Deus... — Parei de andar e me ajoelhei no chão, chocada com o que acabará de ver: o corpo de Chrome boiando no lago. Com lágrimas nos olhos me levantei dali e continuei andando pela floresta.


Sem perceber me choquei contra algo e assim cai no chão, olhei e vi que era Ykhar ela me olhava de uma maneira estranha.


—Ykhar?


—Você é um monstro! Se afaste de mim! Saia! Seu monstro! Você os matou, assassina! — Ela gritava.


—O que? Como assim? Ykhar, sou eu, a Susye. — Falei, me levantando e me aproximando dela sem entender.


—Saia, assassina! Monstro!


—Eu não sou assassina, Ykhar! — Ela continuava gritando e gritando, eu tapei os ouvidos, mas ela continuava e continuava. —Eu não sou assassina, Ykhar!


Eu corri até ela e a empurrei. Nesse momento ela tropeçou e caiu batendo a cabeça eM uma grande pedra. O sangue começou a escorrer pelA pedra até chegar no solo.


—Ykhar? — Ela estava morta, seus olhos estavam abertos e fixos em mim. — A culpa não é minha! Não! Não! Não! Eu não entendo... eu não sou uma assassina! — Fechei meus olhos e comecei a balançar a cabeça.


—Não há mais jeito, Susye. Você os matou! Tudo começou depois daquele seu banho no lago... você ficou estranha. Com as unhas, fez furos na sua coxa e tentou se afogar no lago. O Chrome viu e tentou te tirar de lá, mas você que o pegou e, de alguma maneira, o afogou. Em seguida você saiu correndo de lá e como a Alajéa viu tudo, foi atrás de você para tentar te parar. Você estava muito agressiva, então ela teve que usar a faca, mas você a tomou da mão dela e a matou. A Ykhar estava passeando pela floresta, como sempre faz a noite, e viu o corpo de Chrome e em seguida o de Alajéa. Depois viu você toda ensanguentada e entrou em pânico. Você perdeu a cabeça e, gritando com ela, a segurou e jogou-a para trás. A mesma caiu e bateu a cabeça em uma pedra, vindo a óbito imediatamente. Te encontramos junto ao corpo dela com a faca na mão, murmurando algumas coisas. Uma mulher de longos cabelos negros e olhos cinza viu tudo que aconteceu e nos relatou. O estranho é que nunca a vi por aqui... mas que seja! Agora você vai ser levada até o lago para ser afogada. Mesmo depois de tudo você ainda se nega a acreditar... agora é hora do adeus, Susye. Não queria que as coisas tivessem acabado assim... se ao menos nós estivéssemos aqui... — Leiftan deu um suspiro de tristeza e em seguida se levantou e saiu do local.


Jamon e Valkyon entraram na sala e ergueram a cela a qual eu estava, eles me olhavam com desprezo.


—Eu não fiz nada! Eu não sou uma assassina! Ei, vocês têm que me ouvir!

—Você sempre fala as mesmas coisas. Já está decidido! — Disse Valkyon, sem olhar para mim.


Alguns minutos se passaram e eu pude ver todos da guarda, eles me olhavam com raiva e desprezo. Mais a frente vi o lago, eles colocaram a cela na beira dele e antes de me jogarem nele, o Ezarel se aproximou:


—Parece que as aparências enganam, não é mesmo? — Ele deu um sorrisinho sínico e seus olhos ficaram negros.

Eles chutaram a cela, que caiu na água e começou a afundar.

De repente uma silhueta com uma grande cauda passou por mim, em seguida se prendeu ao lado da cela e ficou me encarando com aqueles olhos negros, pude ouvir sua voz na minha cabeça:


—Não importa a maneira, mas eu disse que você seria minha.


Eu arregalei meus olhos ao perceber que tudo não havia passado de um plano daquela criatura e ela havia conseguido o que queria. A cela foi afundando cada vez mais e agora eu já estava sem folego, lentamente minha vista foi ficando escura, eu me debatia já sentindo a dor da morte.


Olhei para o lado e vi uma pessoa que observava com olhos estranhos, como se estivesse a ler um conto de terror, talvez curiosa com o final da história, parecia confortável. Confortável até demais. Não entendia que fazia parte daquele cenário de terror, pareceria não ver a sombra que rastejava em sua perna. Não entendia a gravidade da situação, não entendia que seria a próxima.


A criatura virou sua atenção para a pessoa e com um sorriso aterrorizante, porém prazeroso, disse com aquela voz demoníaca:



- Se prepare, você é o próximo.